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Imagem dos ataques em 08 de janeiro de 2023 Jornal GGN |
Gramática do Mundo - Carpe Diem
- "Odes" (I, 11.8) do poeta romano Horácio (65 - 8 AC): Carpe diem quam minimum credula postero (Aproveite o dia, confia o mínimo no amanhã) - Gramática do Mundo - Ler e escrever o mundo através da Geopolítica - "A melhor maneira de predizer o futuro é inventá-lo" (Alan Kay) - "Eu quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa" (Guimarães Rosa)
quinta-feira, 31 de julho de 2025
O MUNDO ALEATÓRIO DA EXTREMA DIREITA - E o antídoto que precisamos saber usar
terça-feira, 24 de junho de 2025
PARA SEMPRE NA LEMBRANÇA (RELEMBRANÇAS - 21 ANOS DEPOIS)
24 de junho de 2025. Completaram-se 21 anos da morte de meu pai (2001). Foi em seu velório, em meio à dor que eu sentia, que fiquei sabendo da morte de outro baiano ilustre, na mesma data. Este um conhecido cidadão do mundo: Milton Santos. Com esse artigo homenageio Milton Santos, por sua dimensão histórica-geográfica mundial, e por extensão, meu pai, cujo papel político se restringiu ao seu Estado e a sua sempre querida cidade natal, Alagoinhas, onde foi vereador por quatro mandatos(**).
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Meu pai, Romualdo, com minha mãe, Maura. Foto de 1991 |

sexta-feira, 2 de maio de 2025
PRA FRENTE É QUE SE ANDA! A FORÇA DE UM SINDICATO DE DOCENTES DA UFG – UFJ - UFCAT
Retorno às minhas publicações neste meu blog, bem como no meu canal no YouTube, depois de algum tempo de inatividade por questões pessoais que abordarei em outra oportunidade.
Aqui o que desejo
é apresentar alguns argumentos, ou contra-argumentos, às insídias, postas por
quem deseja criar narrativas que visam desconstruir todo o trabalho que temos
desenvolvido no Adufg-Sindicato, mesmo sendo este considerado um dos mais
ativos e de melhor estrutura em todo o país, quando se fala de entidades ligadas
às universidades.
Evidente que
eleição trás sempre, por oposição, posturas que visam desqualificar,
desconstruir, ou até mesmo negar tudo que esteja sendo feito. O objetivo,
naturalmente, é ganhar o controle do sindicato. Tudo bem que isso seja da
própria natureza do nosso movimento. Mas, infelizmente, a maneira como se
conduz uma campanha eleitoral, seja em qualquer dimensão, em nossa sociedade,
tem sido nos últimos anos, talvez nesta última década, da utilização de
mentiras, ou como se convencionou chamar “fakenews”.
A universidade não
é um universo paralelo. Ela é parte de nossa sociedade, e tal qual esta
reproduz sentimentos, qualidades, defeitos e ressentimentos. Situações
complexas, relacionadas ao nosso trabalho, ou a estrutura da universidade que
nos contrarie, ou até mesmo as decisões políticas de governos que nos atinge
profissionalmente, muitas vezes são usadas em discurso para atacar uma direção
sindical, independente da ação e atuação combativa que ela tenha. Nega-se todo
o envolvimento e participação efetiva, em muitos casos como protagonista, que
nosso sindicato teve, ao longo desta gestão e de outras anteriores. E a
repetição de tais narrativas visa, obviamente, desqualificar quem esteja no
comando.
Ocorre que nosso
tempo, desde o começo da segunda década deste século tem sido marcada por um
comportamento que se denomina “pós-verdade”, ou a maneira como as pessoas
desejam acreditar em uma narrativa, não importando se a mesma é real ou
verdadeira. Mas sendo aquilo que a pessoa deseja ouvir, isso lhe basta. Não
buscando outra interpretação, ou até mesmo justificativa factual para aquilo
que está sendo deformado nessa narrativa. Por isso precisamos esclarecer muita
coisa.
Sabemos o quanto
nosso trabalho se tornou angustiante e tenso desde a pandemia da Covid. E o
quanto governos anteriores nos assacaram e nos transformaram, enquanto
categoria, e à universidade, naquilo que foi convencionado, pelos detratores,
de “guerra cultural”. Para além disso o próprio comportamento das pessoas na
sociedade foi capturado por esse mecanismo gerador de confusões, buscando na
insatisfação pessoal, muitas vezes geradas pelos próprios responsáveis por
narrativas absurdas. O ressentimento, a insatisfação pessoal com o seu próprio
desempenho, as situações geradas por endividamentos decorrentes da perda de
capacidade de consumo (isso pelo período de dois governos, seis anos, que não
tivemos reajustes), e outros sentimentos que se espalham pela sociedade, e
também na universidade, deixaram um caminho fértil para que as distorções da
realidade, e as mentiras transformadas como armas políticas, atingisse algum
objetivo.
Nós, da diretoria
do Adufg-Sindicato, sempre estamos aqui, dispostos a esclarecer quaisquer
dúvidas relativas à nossa gestão, ao nosso trabalho sério, e a honestidade com
que lidamos com os recursos arrecadados pelo sindicato. Naturalmente, temos um
escritório de contabilidade que cuida de nossas contas. Mas temos também, sob
contrato, uma empresa que faz auditoria independente em nossas contas. E para
não deixar nenhuma dúvida sobre como lidamos com nossos recursos, temos no
conselho fiscal uma representante da oposição, que participa nessas eleições
como componente de uma chapa nessa condição.
Durante esses três
anos, dessa nossa gestão, nos desdobramos, em meio às dificuldades de
mobilização, para estar presente nos atos, audiências públicas, reuniões no
parlamento federal, no Ministério da Educação e no Ministério de Gestão,
Inovação e Serviço Público, a fim de lutarmos por nossas demandas. Além de
inúmeras reuniões com a Reitoria. Nossos registros dessas presenças estão
publicados no nosso jornal e em nosso portal.
A ampliação do
espaço do sindicato, questionado pela oposição, que pouco usufrui do mesmo,
atendeu à necessidade de uma demanda sempre visível para nós, e que nos cabia
atender àquilo que os associados desejavam. Jamais procedemos a qualquer
modificação e ampliação em nossa estrutura, sem que isso não se devesse a
demandas e cobranças feitas pelos sindicalizados. Sempre preferimos investir
nossos recursos em patrimônios que atendessem à categoria, muito embora, pela
gestão responsável, jamais deixamos de disponibilizar recursos suficientes para
a luta política, e até mesmo para garantir às unidades e laboratórios, apoios
com recurso financeiro, solicitados por associados, por várias vezes, numa
situação em que a universidade se via impossibilitada de apoiar essas
atividades.
Por fim, o que tem
marcado como uma força proativa do nosso sindicato é o fato de contarmos com
uma base de apoio múltipla em sua composição. Nunca buscamos constituir
diretorias cujos membros sejam afinados somente com uma visão política de
mundo. A diversidade, seja de gênero, etnia ou ideológica, sempre foi marcante
na constituição das últimas diretorias do Adufg-Sindicato. Isso garante nossa
representatividade, organização, seriedade e a força necessária para
conduzirmos nossas lutas e lidarmos de forma responsável com o patrimônio que é
do nosso sindicato representativo das Universidades Federais, de Goiás, Jataí e
Catalão. Essa é uma diferença importante, dentre outros pontos relevantes, na
comparação com a oposição. Não somos uma “seção sindical”, de um sindicato
nacional, que abrange universidades estaduais, privadas e municipais. O
patrimônio do Adufg-Sindicato é dos professores e professoras sindicalizadas
dessas universidades. E sempre foi com esse espírito que expandimos nossos
espaços, seja administrativo ou de entretenimento: para servir aos nossos
associados e associadas. Isso pertence a todos e todas que buscam se
sindicalizarem e nos ajudam a conduzir esse patrimônio e essas lutas.
Somos coerentes
com o que apresentamos em nossos programas e planejamos executar, de forma
transparente e combativa. Por isso, é mais do que justo, que sigamos
fortalecendo o Adufg-Sindicato e prossigamos atendendo à professores e
professoras, que nos procuram e sabem que terão retorno em suas demandas.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
O MUNDO, E NÓS, SEM VOCÊ: DEZESSETE ANOS DEPOIS QUE VOCÊ PARTIU
Querida Carol, minha amada filha, em dezembro de 2010
lhe escrevi uma carta[i].
Completavam-se somente 03 anos que você havia partido. Nesta carta, em que eu
imaginava que de alguma forma pudesse ser lida por quem já não mais estava entre
nós, ilusoriamente, era também endereçada principalmente aos amigas e amigas
que lhes conheceram, e com os quais convivemos nos momentos mais tristes e
tensos de minha vida. Também naquele momento eu imaginava como estaria sendo a
vida com você ainda presente entre nós. Era uma ilusão. Uma linda fantasia
construída por quem estava com o coração estraçalhado, partido. Repito aqui
essa iniciativa, agora 17 anos depois que sua vida deixou de existir. Embora
ateu, imagino você em alguma dimensão, a nos observar e acompanhar nossas
vidas. Nesse momento de dor e saudades, e de um amor intenso e interminável, a
materialidade do mundo é o que menos me importa. Alimento a possibilidade, por
mais inimaginável que pareça, de haver uma outra dimensão, onde as pessoas
boas, principalmente quem deixou a vida tão cedo, possa de alguma maneira
completar o seu ciclo de vida. Como dizia o velho revolucionário Vladimir
Lênin: “Sonhos, acredite neles. Com a condição de realizar escrupulosamente a
sua fantasia”.
O que me move
nessa segunda carta que lhe escrevo é o que sempre me acompanhou durante todos
esses anos. Tentar ver sua presença em uma realidade de drásticas e bruscas
mudanças. O mundo, e não somente o lugar onde vivemos, sente uma transformação
radical, mais acelerada do que em outras épocas. Vivemos um tempo em que a aceleração
é a marca principal, porque estamos sendo movidos cada vez mais por tecnologias
que se superam muito rapidamente. A fluidez do tempo faz com que os
acontecimentos se sobreponham muito rapidamente à realidade do tempo que já
passou (o que leva muito rapidamente ao esquecimento dos fatos), com os
elementos que já se constituem naquilo que compreendemos como futuro. Embora eu
insista, conforme já escrevi em crônicas dedicadas a você, minha filha, que o
futuro é uma ilusão, não existe. É algo a ser construído da junção do passado
com o presente. A noção de futuro, para mim, desapareceu com sua morte. Por
isso sigo focado no presente, sem esquecer o passado. Razão pela qual passei a
adotar o lema do poeta da antiguidade, Horácio (65 - 8 AC): Carpe diem quam
minimum credula postero (Aproveite o dia, confia o mínimo no amanhã).
Não é somente a aceleração contemporânea a marca desse
novo tempo. Mas também algo que tem sido crônico com o transcorrer da
humanidade: a ganância. Isso que é o motor que move a sociedade capitalista,
cega aqueles que acumulam riquezas e os fazem pessoas frias, incapazes de
compreender que um mundo de crescentes desigualdades caminha celeremente em
direção a um abismo. Muito embora as portas das igrejas estejam cada vez mais
abertas a receber pessoas frustradas, ressentidas, revoltadas, sem ter a noção
crítica de a quem dirigir suas frustrações, e por isso tornam-se presas fáceis
nas mãos de oportunistas que se miram pela ganância, alimentam o ódio e
transformam o mundo em um hospício descampado.
Minha filha, os dez anos de sua vida foram de uma
crescente esperança em nosso país, embora de trágicas mudanças no mundo. Logo
na virada do século, aos seus quatro anos de vida, um fato de grande dimensão
sacudiu o mundo. O ataque ao coração do império. O país até então de uma
hegemonia inquestionável, algo que mudou nos últimos anos, foi atacado em seus
pontos estratégicos, da segurança, do poder político e do poder econômico: o
Pentágono, a Casa Branca (neste a tentativa foi frustrada) e o World Trade
Center.
Quando você completou dez anos, e foi levada a morte
por uma doença perversa, um tipo leucemia rara em crianças de sua idade, nosso
país passava por momentos econômicos positivos, embora na política, como
sempre, a disputa do poder e a forma como a grande mídia nos tempos modernos
construiu as bases para a destruição da política, criou um ambiente tenso, mas
que foi parcialmente superado. Só que nos últimos dez anos isso se tornou
rotina, a desestabilizar os governos de esquerda e criar ambientes propícios
para a chegada de aventureiros, oportunistas e golpistas. O ressentimento,
alimentado pela grande mídia, abriu caminho para a destruição da política e a
ascensão de indivíduos perversos e de má índole, num ambiente político onde
essas peças já se faziam presentes, embora não empoderadas.
Parece minha filha, que o turbilhão que afetou minha
vida, nossas vidas, com a sua partida, se disseminou pelo nosso país, e pelo
mundo. A loucura e o banditismo, e até mesmo a corrupção e as maldades nas
decisões políticas, tomaram conta não somente do Brasil, mas também de outras
partes do mundo. Se institucionalizaram e foram normalizadas, pelas crenças
fundamentalistas que se infiltraram, como vírus, nas mentes de boa parte da
população. Os gestos com os dedos, de armas, a simbolizar a eliminação dos
adversários, passou a fazer parte de uma coreografia macabra, sendo executada
até mesmo dentro de algumas igrejas. A violência, a perversidade, a
brutalidade, principalmente contra as mulheres e contra as pessoas pobres e
pretas, se disseminaram espantosamente. A política se tornou um ambiente de
ódio, chacotas e esculhambação. A ironia passou a substituir os debates
políticos e a destruição de reputação se tornou uma norma, onde a mentira,
agora chamada de fakenews, constitui-se numa prática que tem deixado a
sociedade numa polarização perigosa, a afetar até mesmo as famílias.
Em meio a tudo isso minha filha, parece haver uma
programação definitiva para a deflagração de uma terceira guerra mundial. Sim,
mundial, porque guerras é o que não falta nesse mundo, espalhadas por praticamente
todos os continentes. O mundo se arma não tanto silenciosamente como em épocas
passadas, como por exemplo no entreguerras, década de 1930, chamada pelo historiador
Eric Hobsbawm de período da paz armada. Mas a apologia às armas e ao armamento
não diz respeito somente às nações que se preparam para a guerra. Internamente,
em nosso país, numa nova cultura de perversão tem também se disseminado e amplificado
a violência. A liberdade de acesso às armas, e até mesmo a negação do impacto
disso sobre a violência que afeta a sociedade, patrocinada por uma base
parlamentar bancada pelo segmento bélico, se tornou um culto. Caçadores (em um
país onde a caça é proibida) e “colecionadores de armas”, montam arsenais
particulares e transformam-se também em mercados paralelos para municiarem
traficantes e milicianos. Com isso, as grandes cidades tornaram-se cada vez
mais campo de guerras, onde até mesmo trincheiras são montadas em territórios
urbanos dominadas por esses setores criminosos. Disfarçadamente, no entanto, é
no ambiente político parlamentar que essa força cresce, ampliando o número de
pessoas que possuem sob seus controles um verdadeiro aparato bélico, permitido
por leis criadas no parlamento brasileiro.
Estou me estendendo nesta carta, minha filha, mas é
que o mundo capotou nessas quase duas décadas, desde quando convivíamos com sua
doce presença entre nós. E voltando aos tempos em que você era criança, do
fatídico ataque aos EUA, seguindo de intensas guerras, não houve hiatos que
possamos dizer que tempos melhores nos animavam. Logo veio uma grave crise
econômica em 2008, que por pouco não se tornou uma grande depressão, mas que
afetou economicamente todo o mundo. E suas consequências transformaram a
geopolítica mundial, subtraindo parte do poder hegemônico da potência dominante
e possibilitando a ascensão de outros países, principalmente a China, e o velho
adversário situado geograficamente no Heartland, a Rússia. Aqui talvez eu
exagere, pois não tive tempo de enquanto você conviveu conosco, de lhe passar
um pouco dos conhecimentos históricos e geográficos de seu pai. Não era ainda o
momento. Você devia curtir e aproveitar de sua infância, infelizmente tragada
pelo destino. No entanto, você já acompanhava a nossa vida política e por
várias vezes esteve conosco em eventos e campanhas das quais fizemos parte,
ajudando alguns candidatos e candidatas de esquerda. Neste particular, minha
euforia militante diminuiu, e muito devido ao impacto causado por sua morte.
Nunca mais fui o mesmo, e entre altos e baixos, causados pela dor de sua
partida, o olhar crítico sobre a realidade e a impotência das forças
progressistas em conter as mudanças em curso na direção da perversão de uma extrema-direita
odiosa, preconceituosa e criminosa, me levou a um gradativo afastamento, embora
mantendo sempre minhas relações políticas e a minhas concepções progressistas e
comunistas de mundo. Ainda sonho, relembrando a frase extraída do poema do
Lênin, com um mundo mais justo e menos desigual. Como você sempre soube ser
nossos desejos manifestados em nossas atividades políticas.
Neste dia 13 de dezembro de 2024, data de mais um ano
depois de sua partida, de sua morte, ou de sua transformação em estrela, como
sua mãe gosta de falar, vivemos em meio a um mundo de incertezas. Mas não
podemos deixar de cumprir aquilo que a vida nos legou. Muito embora tristes,
sempre, e saudosos com sua ausência, nos escoramos nos sucessos obtidos pelo
seu irmão, Iago, que escala no ritmo adequado os degraus do conhecimento e já
caminha para finalizar o mestrado em economia, com as portas já abertas, por
sua competência para o doutorado. O que muito nos orgulha. E em cada
comemoração que fazemos com ele, saiba minha filha, que você está sempre
presente em nossas lembranças. Principalmente nesses momentos que podemos dizer
serem felizes, em meio à tristeza por não a ter conosco.
Mas aprendi, desde quando busquei a terapia para
contornar o sofrimento por sua partida, a tê-la sempre ao meu lado, ao nosso
lado. Assim amenizamos um pouco a dor, a tristeza e o sofrimento por não poder
tê-la presencialmente.
Ah, antes de finalizar não poderia esquecer de
enfatizar, porque creio, ou pelo menos quero crer, que você acompanha, o
sucesso da BORDANA, empreendimento coletivo, uma cooperativa de mulheres,
criada a partir de seus desejos, e que hoje se tornou, com a força que sua mãe
dedica desde o começo, um ambiente de trabalho, mas principalmente de
solidariedade, resiliência e cooperação, com muito sucesso por meio da competência
e dedicação de mulheres maravilhosas, a começar, naturalmente por sua mãe.
O Instituto Ana Carol está consolidado, mas a Bordana
se tornou tão intensa que não dá tempo a sua mãe para tocar projetos por meio dele.
Contudo, no próximo ano devo me aposentar da docência, após 30 anos lecionando
na UFG, e a partir daí penso em poder assumir a condução dessa organização
social, que criamos para imortalizar sua existência e poder contribuir de
alguma maneira com alguma forma de transformação social em nossa comunidade.
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Última foto da Carol, em novembro de 2007. Ela estava pronta, me aguardando para irmos ao Quintart da Adufg. |
Minha querida
filha, você era tudo que eu esperava de bom na vida. Já tínhamos o Iago, e a
esperança de ter uma filha alimentava meus desejos paternos. E você veio. Não
tão intensa quanto seu irmão, mas com a doçura e a alegria que sempre pontuou
seus anos de vida por aqui. Meu desejo se transformou em tragédia. Você se foi
ainda na infância. Foi um duro golpe em nossas vidas. O tempo amenizou essa
dor, embora o sofrimento por tamanha perda não desapareça, nem nunca irá
desaparecer. Vamos vivendo com isso, e tendo sua presença como um norte a nos guiar,
uma força inexplicável que nos acompanha e faz com que tenhamos você sempre ao
nosso lado. Naturalmente, jamais será a mesma coisa que seria com a sua presença
física, e o seu desenvolvimento entre a infância, a adolescência e a maturidade
de ser mulher. Não pudemos acompanhar isso. Mas sonhamos. E os sonhos nos
deixam em meio às tristezas, rompantes de alegrias. Não são meras ilusões, mas
fantasias que criamos de ter você aqui, para sempre, em nossas vidas.
Beijos minha querida Carol. E saiba que o nosso amor
por você é eterno. E isso está tatuado em meu braço, para sempre. Estará lá
enquanto eu viver.
sexta-feira, 31 de maio de 2024
O TEMPO ANACRÔNICO DO ANDES – Ou, me inspirando em Saramago, “O espetáculo da cegueira”
Fiquei feliz ao ler no site A
Terra é Redonda, o artigo do prof. Valter Lúcio de Oliveira, “Andes x
Proifes – a disputa no sindicalismo docente”. Me identifiquei com a maior
parte do escrito, embora possa discordar de alguns poucos elementos contidos na
sua análise. Mas no geral, creio que ele foi bastante feliz ao identificar os
problemas existentes na luta sindical, e nas questões relacionadas às disputas
entre essas duas representações docentes.
O que me surpreendeu foi com a dita
surpresa que seu artigo proporcionou a outro colega. Me refiro à réplica, ou
algo parecido com isso, em texto produzido por Lucas Trentin Rech, “Assembleias
docentes” publicado nesse mesmo site. Economista, me parece que ele lê os
números ao seu bel prazer, na tentativa de dar explicação filosófica ao que na
democracia se compreende como desejo da maioria real, factual, mas não
necessariamente presencial. Caso contrário teríamos que abolir o sistema
eleitoral pelo qual são eleitas as representações parlamentares e os gestores
municipais, estaduais e federal. Ora, pois que senão após debates restritos,
sem a participação popular, televisionado, segue-se a escolha, pelo voto, daqueles
que irão nos representar. Como negar o direito de tantos, que não participam
desses debates, à suas escolhas, feitas ao longe, mas cientes de suas responsabilidades
e, acreditamos, formuladas a partir de suas próprias compreensões, no dito e no
contradito.
Negando a possibilidade de plebiscito,
para que se possa aferir o desejo de fato da maioria dos docentes às suas
escolhas, este colega se aproxima da incongruência bolsonarista que repele a
todo custo a ampliação da democracia, e nega os resultados que lhes são contrários,
quando a aplicação desta aponta para uma maioria que não lhe favorece. Assim,
visam destruir o objeto daquela consulta, buscando a todo o custo desacreditar
desse mecanismo, inevitável para os dias atuais.
O “assembleísmo” defendido pelo
professor Rech, nada mais é do que uma arena, um ringue, onde aquele que se
expressa melhor, ou o que fala com mais veemência, consegue agradar um
quantitativo que, mesmo minoritário, se apresenta como mais barulhento e
impositivo, causando uma reação se não de indiferença, mas de apreensão, com as
bravatas e comportamentos agressivos adotados para inibir e “convencer” boa
parte de uma plateia que se cansa e se retira à medida em que o tempo favorece
ao histrionismo dessa minoria que procura se impor pela virilidade de seus
discursos.
Há muito que a Universidade
perdeu essa capacidade de debater, de saber conviver com os contrários, de usar
da dialética para compreender a necessidade de evoluir nos pensamentos e nas
compreensões fechadas da realidade. O embate de ideias foi substituído pela
negação da contradição, pela afirmação da pós-verdade, pelo emburrecimento de
quem não deseja ser contraditado. Pior do que isso, as redes sociais terminam
completando esses comportamentos, e por ali persiste a continuidade de um discurso
que não se encerra nas assembleias, porque o contraditório precisa ser destruído,
como nos últimos anos a extrema-direita soube muito bem usar desse mecanismo
para destruir reputações.
E, se nas assembleias já não é possível
o debate, como consequência dessa negação, nas redes sociais a virulência do
discurso, a desqualificação do outro, se espalha em meio à difícil
identificação dos autores das ofensas e das fake-news, que são usadas para
convencer quem seja mais facilmente seduzido pela radicalidade do discurso e
pela ilusão das promessas fáceis de representações fajutas e irresponsáveis.
Porque sabe entrar numa peleja por essa radicalidade, mas fica encantoada e
desorientada na hora de sair, pela incompetência e incapacidade de saber
negociar, e buscar um entendimento no confronto de posições que são adversas e
contrárias.
Esse mecanismo, e comportamento,
defendido pelo professor Rech, se explica pela condição de manipular a maioria.
A estrutura de funcionamento do Andes Sindicato, anacrônica, mas que favorece a
uma minoria extremista, “esquerdista”, no sentido aplicado por Vladimir Lênin,
embora a maioria da universidade não se afine com seus ideais, dificulta a que
uma oposição consequente e desejosa de mudança consiga sucesso. Estrutura não
somente nessas condições de negar uma participação maior dos colegas docentes,
mas também de dificultar que numa votação direta se possa substituir esses
agrupamentos que controlam uma máquina milionária.
A Andes, ou O Andes, não “representa”
somente os professores e professoras do ensino superior federal. Ela abrange universidades
estaduais, municipais, faculdades isoladas e fundações, que lhes servem somente
nos momentos de processos eleitorais, de definição de suas diretorias. Torna-se
assim, pela dimensão do quantitativo de tantas instituições, praticamente impossível
mudar os rumos dessa entidade, aprofundando seu anacronismo, mas também, ao
contrário do que se expressa seus defensores, um autoritarismo crescente que
tenta inviabilizar, em meio a uma legítima pluralidade sindical, a possibilidade
de outras alternativas, de outros caminhos, que não seja pela radicalidade do
discurso ou da violência e intolerância no tratamento com as divergências.
O PROIFES surgiu exatamente do
conflito desses embates e desse comportamento autoritário e esquerdista, avesso
às negociações, bem presentes nas diretorias do Andes. Como nos últimos
acordos, inclusive em relação à melhoria de nossas carreiras, foi a Federação
que se dispôs a sentar com os governos, e buscar atingir o melhor, diante do
possível, com a absoluta ausência do Andes. Isso incomodou seus seguidores a um
ponto de expressar o grau de intolerância, de imposição e de não aceitação de
outra entidade que possa ameaçar esse tempo anacrônico no qual ela está
fechada.
Mas todo ciclo se encerra. Por
mais que a Andes tente impedir as transformações no movimento docente, cada vez
mais se amplia essa possibilidade, de se forjar alternativas que fuja dessa
postura sectária e autoritária, de imaginar que suas proposições devem ser,
sempre, enfiadas goelas abaixo nos governos que estiverem de plantão. Claro,
desde que sejam governos progressistas. Pois que, calando-se diante dos
governos de extrema-direita, como em exemplo recente, em que se passaram seis
anos sem que se houvesse mobilização para greves nos governos Temer e
Bolsonaro.
Mais do que entrar numa
negociação, o que deseja com esse comportamento andesino, é abrir uma luta que
vai para além de questões salariais ou de reposição orçamentária para as universidades,
mas visa construir um protagonismo radical que dê visibilidade a grupos
políticos que não possuem o mínimo de representatividade na sociedade.
Distantes desses debates e dessas discussões, muitos colegas embarcam nos discursos radicais, e são convencidos de que o céu não é tão distante para os seus desejos. No entanto, como já dizia um personagem shakespeariano, numa frase muito conhecida, mas pouco compreendida, “há muito mais coisas entre o céu e a terra, do que imagina nossa vã filosofia”.
domingo, 19 de maio de 2024
BREVE COMENTÁRIO SOBRE A PROPOSTA AO MOVIMENTO DOCENTE - DITA FINAL PELO GOVERNO - PARA OS REAJUSTES SALARIAIS
Mais uma vez
direciono meus comentários para os colegas professores e professoras da
Universidade Federal de Goiás.
Já publiquei
outros artigos aqui no meu Blog, que vocês podem acessá-los, se ainda não o
fizeram, que complementam este que escrevo aqui agora, com o intuito de
analisar a proposta feito pelo governo para o escalonamento de nosso reajuste,
e algumas mudanças em nossa carreira docente.
Inicialmente, uma
pergunta básica? Quem tem medo da democracia? Digo isso porque é impressionante
a quantidade de ataques de “haters”, ofensas, palavras injuriosas e tentativas
de desqualificar o nosso sindicato Adufg, bem como o Proifes-Federação. Temos
anotado e copiado essas atitudes bizarras de colegas, e pessoas em geral, visto
que não conseguimos identificar algumas delas, porque não se restringem a quem
é da UFG. Depois que baixar a temperatura, causada pela greve, iremos ver quais
providencias adotaremos, dentro daquilo que a lei nos permite.
Mas em relação ao questionamento
que faço, a resposta é simples. Quem tem medo da democracia é quem não consegue
conviver com o contraditório, com outras ideias e propostas que não são necessariamente
as suas. A forma de se contrapor a uma opinião, para quem não consegue conviver
com o debate acadêmico, ou mesmo político, é mediante o uso da agressividade,
do ódio, e da intempestividade em impedir que tal proposta, ou ideia, tenha
prosseguimento. No computo geral, da avaliação política, chamamos isso de “fascismo”,
a tentativa de calar, pela forçar quem tenha outros argumentos que contrarie
determinada pessoa propensa à intolerância, autoritária e avessa à democracia.
Dito isso, vamos
ao que importa, porque o que queremos é discutir o que está posto na mesa de
negociação para resolver o impasse do nosso reajuste salarial, dentre outras
coisas: A proposta apresentada pelo Governo, pela terceira vez, e após reuniões
e sugestões de algumas entidades.
Primeiro é
necessário ter a percepção, e a compreensão política, de alguns elementos que
servem como balizamento para entendermos as dificuldades impostas por
conjuntura política complexa e a própria, e imperativa, postura do governo, em
não apresentar nenhum percentual para nossa categoria, neste ano de 2024. Tudo
isso foi agravado com a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, com
forte impacto econômico não somente naquele estado, mas no Produto Interno
Bruto do próprio país. Dada a relevância econômica que ele possui, tanto em
termos industriais, como principalmente na agricultura e na pecuária
(agroindústria).
Se já havia um forte compromisso do governo
com o dito “arcabouço fiscal”, e a obsessão pelo “déficit zero” (não dá pra
comentar essas questões aqui), com os últimos resultados econômicos, aliados a
essa catástrofe climática (que não pode ser atribuída à natureza, mas também
não cabe aqui a análise socioambiental desse desastre), nos permite ter a
convicção que não haverá acréscimo por parte do governo à proposta já
apresentada, no que nos foi informado que esta seria a última, e será levada no
dia 27 para o acerto, ou acordo, final.
Podemos apostar,
insistindo em uma proposta de índices mais elevados. Claro que isso é o desejo
de qualquer docente (não estou analisando a paralisação dos TAEs, mas tão
somente dos docentes). Mas podemos ficar, como no dito popular, segurando na
brocha, e os negociadores do governo a retirar a escada de nossos pés, nos
deixando pendurados. Assim, poderíamos chegar a um impasse e ao fechamento
dessa mesa de negociação, que só poderia ser aberta novamente às vésperas do
que o governo considera nossa data base, o mês de maio de 2025. Ou seja,
perderíamos também o reajuste proposto para 1º de janeiro de 2025. É pagar para
ver.
Mas não somos
irresponsáveis. Fazemos parte de um Sindicato e de uma Federação, que há muitos
anos vem priorizando as negociações, entendendo que essa forma de se chegar a
um acordo pressupõe que as duas partes vão gradativamente abrindo mão de suas
propostas iniciais, até chegar a um possível trato final, em que cada um vai
cedendo um pouco.
O que está
colocado agora na mesa de negociação, para ser fechada no dia 27, não é o que
queríamos inicialmente. Mas também não é a proposta inicial do governo. Este
manteve o ano de 2024 sem reajuste (concedendo somente aumento nos benefícios),
mas trouxe na segunda proposta uma antecipação da validade do reajuste, de maio
para janeiro de 2025, acrescendo o percentual inicial de 4,5 para 9,0%. Reduziu
de 4,5 para 3,5% em maio de 2026, mas isso não tem muito impacto na somatória, devido
a antecipação da validade do reajuste para janeiro de 2025, quatro meses antes
da proposta original (maio de 2025).
No prosseguimento
das negociações os representantes do governo aceitaram elevar os valores para
as classes de entrada (o que vai beneficiar também os professores substitutos),
além do aumento de 4,0% para 4,5 e 5,0%, respectivamente nos anos de 2025 e 2026,
nos nossos “steps”, ou o aumento que temos automaticamente em nossos salários
(preenchendo-se os requisitos, naturalmente) entre cada degrau de nossa
carreira. O que impacta também na somatória final no comparativo entre como
estávamos no começo deste governo, até o último ano dessa gestão (2026).
![]() |
Síntese das propostas do Governo Federal, entre 2023 e 2026 Fonte: GOV.BR (2023, 2024, 2024b) Extraído do artigo do Prof. Tadeu Arrais (ver em www.adufg.org.br) |
Defendemos a
aceitação dessa proposta, para evitar ficarmos sem nada e sermos forçados a negociar
mais uma vez no começo do próximo ano. E não somos irresponsáveis de imaginar
que um movimento grevista, aprovado somente com 5 votos de diferença, possa ter
fôlego em permanecer por mais tempo. Até porque não usamos da greve como um
instrumento político para confrontar governo, nem muito menos para termos algum
tipo de protagonismo político. Nosso objetivo é garantir que, em meio a
negociações tensas, mas que não tínhamos desde o governo Dilma, possamos chegar
a um acordo que nos permita diminuir boa parte de nossas perdas salariais. Para
que, em um novo governo, e já na elaboração do orçamento para 2027, possamos garantir
outros reajustes, quando podemos zerar essas perdas e avançarmos para termos
aumentos reais. A depender do caráter desse governo, a ser eleito.
Até lá, deverão
permanecer abertas as mesas setoriais, e a luta por recomposição orçamentária
nas universidades e melhoria de trabalho, tanto para docentes como para
técnicos administrativos, que travam sua luta em paralelo. Da mesma forma, uma
universidade bem servida de dotação orçamentária, e de gestão democrática, nos
possibilita discutir sobre onde internamente devemos investir mais. Nesse
ponto, a participação estudantil é fundamental, dado a suas reivindicações
serem pertinentes na defesa de melhoria das condições para que possam estudar e
permanecer em uma universidade que possibilite os retornos necessários para uma
formação completa, em todos os sentidos.
A luta continua, e
é permanente.
(*) Acesse também o canal @ROMUCAPESSOA no YouTube:
https://youtu.be/uYExj8BfISI
quinta-feira, 9 de maio de 2024
SOBRE A AÇÃO DE “HATERS” E AS “FAKE NEWS” NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO E DURANTE A GREVE DOCENTE. E O QUE HÁ POR TRÁS DA INSISTÊNCIA EM SE CRIAR UM “COMANDO” DE GREVE.
Infelizmente não
estamos livres dos vícios, da agressividade, do discurso de ódio e das ações
maldosas que permeiam o ambiente virtual que se espalharam pelas redes sociais
desde 2017. Embora sabendo que esse comportamento é milenar, mas traduzido como
mentiras, principalmente em ambientes de disputas pelo poder e de guerras, foi a
partir das eleições estadunidenses daquele ano que essa expressão “fake news”
se popularizou, tanto em sua referência quanto na prática.
Junto a isso, e
com a disseminação das redes sociais, mas levado pelo ambiente político
criado pelo uso das fake news, tornou-se também comum a ação de pessoas
provocadoras, que pelo discurso passaram a serem chamadas de “haters”, ou
“odiadores”.
Essas duas práticas são irmãs gêmeas, no sentido de destruir reputações, infernizar a vida de algum oponente ou de alguém que expresse opinião polêmica, não aceita por segmentos políticos conservadores, ou até mesmo por quem deseja desqualificar determinadas ideias, concepções e/ou opiniões, mas que não possuem argumentos sólidos, concretos ou até mesmo que sejam coerentes.
As “fake news” se
disseminam como um raio pelas redes sociais, numa situação de difícil
contestação, porque já se sabe, por estudos e pesquisas realizadas, que há uma
tendência de que as pessoas se guiem mais pelas mentiras do que pelas notícias
fundamentadas em fatos reais. Esse é um mal que corrói a sociedade em tempos de
informações digitalizadas, da velocidade com que a informação chega nas pessoas
e como ela é compartilhada milhares de vezes, sem a observância da veracidade,
ou até mesmo porque algumas pessoas desejam acreditar naquilo que está lendo.
Neste último caso, essa prática se denominou, também principalmente a partir de
2017, como “pós-verdade”. Ou seja, o fato de as pessoas acreditarem somente
naquilo que elas desejam acreditar. Não há espaço para o contraditório.
Nos últimos anos,
aqui no Brasil a partir de 2018, essa prática se disseminou na mesma velocidade
com que a extrema-direita tomou corpo. Obviamente porque desde
então, acentuando-se com a eleição de Jair Bolsonaro e piorando durante a pandemia,
isso se transformou numa arma política e ideológica.
A mentira sempre
foi uma arma utilizada estrategicamente durante os períodos de guerra. E muito
já se repetiu uma frase, “numa guerra a primeira vítima é a verdade”, cujo
autor provavelmente seja Ésquilo, dramaturgo grego que viveu no ano VI antes da
era cristã, pelo calendário ocidental. Porque esconder a verdade, ou espalhar
mentiras, sempre foi uma prática para gerar confusão, omitir como os fatos
reais de fato acontecem, além de demonizar adversários gerando dúvidas nas
pessoas, que terminam por acreditar na versão mais propagandeada.
Bom, se essa já era uma preocupação há mais de dois milênios, nos imaginemos numa realidade em que a informação circula o mundo em segundos. Pois é neste mundo em que vivemos. E por essa velocidade, e com seus mecanismos que possibilitam essa rapidez, que as perversões atingiram uma proporção epidêmica, no Brasil e no mundo.
Essa prática perversa, por mais incrível que isso possa parecer, tem sido utilizada por setores do movimento docente, que defendem ardorosamente a postura sectária da entidade que se diz “sindicato nacional”. Num primeiro momento isso foi feito para atacar o nosso sindicato Adufg, espalhando de forma mentirosa que o modelo de plebiscito eletrônico não era confiável. Sim, algo parecido com a insistência da extrema-direita em acusar as urnas eletrônicas de não serem confiáveis.
Não bastasse
espalhar mentiras para gerar dúvidas, passaram acusar o sindicato, argumentando
que o mesmo não iria conduzir o movimento caso a greve fosse aprovada. Logo em
seguida, agora atuando como “haters”, passaram a replicar com virulência,
comentários nas postagens do sindicato nas redes sociais, e até mesmo em um
vídeo que produzi logo depois da deflagração da greve, reafirmando nossa
posição que a direção do movimento grevista seria de responsabilidade da
diretoria do sindicato, legitimamente eleita pela maioria dos professores e
professoras, para conduzir nossas lutas.
Essa sequência de
mentiras tinha, claro, um objetivo. Desqualificar o nosso sindicato, e, por
extensão, atingir a nossa federação, à qual o Adufg é vinculado, por sua
capacidade já comprovada de conduzir negociações vitoriosas com o governo, como
foi no caso da reformulação de nossa carreira, durante o Governo Dilma Roussef.
Assim, tentando enfraquecer o sindicato por meio de mentiras (ou fake news),
gerando dúvidas entre professores e professoras, visavam forçar a criação de um
“comando local” de greve, pelo qual a condução da greve se daria por esse
“comando”, ficando a diretoria submetida às decisões “democráticas” do que eles
chamam de “base”. Para nós, que conhecemos essa prática de há muito tempo, uma
clara tentativa golpista de usurpar o poder da diretoria do sindicato, delegado
no processo eleitoral legítimo.
Esse tal “comando
local de greve” (já criado paralelamente de forma desrespeitosa, dividindo o
movimento) reportaria ao “comando nacional de greve” do Andes. O que seria
outro golpe, pelo fato de o Adufg-Sindicato não ser vinculado à essa
organização, mas sim ao Proifes-Federação. Essa confusão, há anos é
provocativamente reforçada, por um grupo de colegas que faz oposição à
diretoria do Sindicato. Nas assembleias, por meio de discursos dissimulados,
nos acusam de estarmos alinhados ao governo, e com confusões também propositalmente
criadas nesses fóruns, com o objetivo de dispersar uma parte dos colegas
presentes, a fim de poder levar a cabo suas intenções golpistas, e por meio do
“comando” o que desejam seria assumir o controle das decisões a serem “obrigatoriamente”
implementadas pela diretoria da Adufg, porque pretensamente teria sido decisão
da “base”.
Além dessas duas
questões, que envolvem Andes x Proifes, em nível nacional, e diretoria do
Sindicato-Adufg x golpe de quem não aceita resultado eleitoral, há outros
elementos. Aí entramos no campo do uso de uma forma de luta legítima, mas que
deve ser utilizada estrategicamente no momento de impasse final de negociações:
a greve. Esses nossos colegas opositores, professores e professoras, que se
julgam serem eles os “verdadeiros democratas”, e assim se denominam em grupo
recém-criado responsável por criar esse “comando” paralelo, e que replicam aqui
essa postura e comportamento sectário do Andes, tem na greve um fim, e não um
meio, dentro de um processo de negociação. Ademais, buscam inserir um número
grande de reivindicações, para além das questões salariais, para que, quando a última contraproposta for apresentada e não ser aquela por
eles indicada desde o primeiro momento, possam assim defender o prosseguimento
da greve ad-infinitum, conforme já aconteceu em anos anteriores.
A história está
aí, é só pesquisar. Quantas vezes a Andes prosseguiu teimosamente na greve
mesmo em fim de negociação, sem conseguir nenhum resultado positivo para sua
proposta. Porque a greve passa mais a se constituir em uma arma política para
emparedar e desgastar o governo, mesmo sendo este progressista e estar disposto
a atender nossas demandas, apesar de que pela conjuntura isso se dê de forma
mais lenta do que desejamos.
Entre fake-news, e
ação de haters, o objetivo é claro. Nos conduzir para uma greve sem fim, com o
objetivo de atender a seus interesses políticos de segmentos minoritários de
extrema-esquerda, que neste particular se alinha à extrema-direita na estratégia
de enfraquecer o governo Lula.
De nossa parte nos
interessa conseguir, por meio da mesa de negociação em curso, algum avanço
positivo em relação à proposta inicial feita pelo governo. Já avançamos, mas
pensamos que podemos exigir mais e que o governo pode ceder um pouco mais.
Assim se negocia, e dessa forma vamos chegando a acordos mesmo que não seja o
ideal, mas que seja o possível em meio às situações difíceis pelas quais passa
o governo, emparedado pelo Congresso e por bancadas fortemente organizada de
setores de direita e extrema direita que sequestraram um terço do orçamento,
por meio das chamadas “emendas impositivas”. Mas que seja o acordo possível,
dando-se as garantias de correção em nossas carreiras, mantendo-se aberta mesa
de negociação especificamente para a categoria docente, assim como também tenta
fazer os servidores técnicos-administrativos.
A história se faz
com verdades, não se faz com mentiras. A democracia pressupõe o livre desejo da
maioria, seja para entrar em uma greve, seja para sair dela. O resultado disso
deve ser respeitado, como também deve ser respeitado as escolhas legítimas nas
eleições sindicais, sem que se tente o tempo inteiro usurpar um poder
legitimamente concedido no processo eleitoral, pela maioria dos professores e
professoras. Nosso sindicato, um dos mais forte do país, em termos de
estruturas e de percentual de professores e professoras sindicalizados, tanto
entre ativos como entre aposentados, merece respeito. E não será por meio de
golpes que conseguirão nos dobrar, nem impedir que lideremos nossa categoria e
conduzamos o movimento grevista com seriedade e sem manipulações.